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• 1548. Francisco de Holanda e a Arte do Desenho. (notas)

1. Vd. DE HOLANDA, Francisco - Da Pintura Antigua (1548). Lisboa: Horizonte, 1984, p.13 e em especial todo o prólogo, com referência directa ao «mito» platónico; IDEM - Diálogos em Roma (1548) p.61. Lisboa: Horizonte, 1984; IDEM - Da Ciência do Desenho (1571). Lisboa: Livros Horizonte 1985, p.20-21. Cf. Introdução e notas de González Garcia in HOLANDA, F. - Da Pintura Antiga. Lisboa: INCM, 1984. Idea e concetto são as noções entendidas por Panofsky como equivalentes ao pensiero, termo funcional do «projecto»; faculdade de representar o Belo ou o Feio. Para Panofsky o Renascimento não faz mais do que adequar a noção neo-platónica de Ideia à lógica das formas ideais. Mas esta é já a derivação aristotélica e certamente o destino «retórico» adoptado pela disciplina da História da Arte. PANOFSKY – Idea. op.cit., p. 84-85.

2 . Vd. DESWARTE-ROSA, Sylvie - "Francisco de Holanda, teórico entre o renascimento e o maneirismo" in História da Arte em Portugal. Lisboa: Publicações Alfa, 1986; IDEM- Ideias e imagens em Portugal na Época dos Descobrimentos. Francisco de Holanda e a Teoria da Arte. Lisboa: Difel, 1992, em especial parte III e IV, p.127-235; IDEM - As Imagens das Idades do Mundo de Francisco de Holanda. Lisboa: INCM, 1987; "Neoplatonismo e arte emPortugal" in História da arte Portuguesa. Lisboa: Círculo de Leitores, 1995. Vol. 2, p.511-537; IDEM - "Francisco de Holanda: Maniera e Idea" in A Pintura Maneirista em Portugal. Lisboa: cat. exposição, 1995. Os estudos de Deswarte-Rosa procuram preencher o quadro incompleto de Panofsky (Idea) e justificar uma «solução» neo-platónica que confirmaria a tese segundo a qual os «casos» de Durer e Miguel Ângelo eram familiares àquela filosofia. A «obra» de Holanda significa a descoberta de um caso inédito nas relações entre a cultura «humanista» italiana e a «universalidade» da arte. Que a doutrina da Idea tenha existido não restam dúvidas, correspondendo à ruptura iniciada pela Reforma, cuja sequência se segue noutros termos com a «cultura» contrareformista de finais de Quinhentos e a arte do séc.XVII. A monografia de Holanda é ainda a de SEGURADO, Jorge - Francisco d'Ollanda. Lisboa: Excelsior, 1970.

3. HOLANDA - Da Pintura Antiga. op.cit., cap.9º, «Por onde deve aprender o pintor», p.35.

4. Ibidem, Cap.41, p.78-79.

5. Parti pris de Derrida: «le dessin est aveugle, sinon le dessinateur ou la dessinatrice». Para Derrida o pensamento do desenho fia-se na memória dos signos, na maneira de os sentir e de os tocar ao mesmo tempo que os inscreve. O desenho seria como que o gesto de antecipação; tema da antecipação da mão que avança, que tacteia e que se precipita em substituição da cabeça. O acesso ao visível faz-se como acesso à ideia, ao pensamento. No desenho a errância é o movimento de lucidez, o movimento da procura da verdade. Segundo a «espeleologia» platónica toda a sinestesia do corpo quer libertar-se da prisão das sombras, da cegueira. O desenho exprime uma anamnese da cegueira. Vd. DERRIDA, Jacques - Mémoires d'aveugle. Paris: RMN, 1991, passim.

6. «Fazer e criar de novo numa tábua limpa e lisa, ou num papel cego e inobre, criar e fazer de novo quaisquer obras, divinas ou naturais, com tão perfeita imitação que pareça naquele lugar estar tudo aquilo que não está, e ser longe o que está perto e chegar-se ou afastar-se de nós como vero e incorporado, o que é imaginado e incorpóreo, isto somente com a ajuda de duas linhas, uma recta e outra oblíqua, tiradas da régua e do compasso, e assim mesmo com a razão do claro e da sombra», HOLANDA - Da Pintura Antiga, op.cit., p.45.

7. «Esquisso são as primeiras linhas ou traços que se fazem com a pena, ou com o carvão, dados com grande mestria e depressa, os quais traços compreendem a ideia e a invenção do que queremos fazer, e ordenam o desenho; mas são linhas imperfeitas e indeterminadas, nas quais se busca e acha o desenho e aquilo que é nossa tenção fazermos. Assim que do esquisso se vem a fazer e a compor o desenho ou debuxo, limando-o e ajuntando-o pouco a pouco», HOLANDA - Ibidem, p.45, nosso sublinhado. O termo debuxo não parece ter sobrevivido enquanto nome. Encontramo-lo contudo em Cennini (debusciare) e ainda hoje, em castelhano, dibujo. Da sua «origem» cenninniana tentamos a aproximação do termo: acção de descascar, ou seja, na acepção técnica, «lavrar» uma tábua de madeira, fazendo inscrições, traços, rasgos. Operação técnica semelhante à da gravura em madeira ou do moderno linóleo. Cennini com o stilo podia então debusciare

8. Sprezzatura é o termo com que Baldassare Castiglione enuncia a graça e a beleza, revelada na solução sem esforço de todas as dificuldades. Sprezzatura revela mais do que um paradoxo, como significado de: desdém, «despejo», desenvoltura, ousadia, firmeza, graça. Tal paradoxo diz-nos também que ao máximo de natureza corresponde um máximo de artifício. É a passagem à dissimulação e à figura da Prudência. A arte do Cortigiano sob condição ética e política: processo de civilização que começa pelas maneiras e pela superficialidade do modelo «superior» do Cortigiano. Vd. SHEARMANN - O maneirismo, S. Paulo: Cultrix, 1978 (1ªed. Harmondsworth: Penguin Books, 1967), p.19-20; Castiglione, Baldassare - Le Livre du Courtisan. Paris: Gérard Lebovici, 1987. Apresentação de Alain Pons.

9. CACHE, Bernard - Earth Moves. The Furnishing of Territories. M.I.T.1995. O livro de Cache é o exemplo de uma intensa conceptualização e classificação das imagens. Classificação tanto mais importante enquanto independente de uma análise hermenêutica, histórica, psicológica ou gestáltica. O racionalismo das teses de Cache tem como enunciados o conceito deleuziano de dobra (pli) e as teses de Bergson sobre a imagem. Inflexão, vector e enquadramento são os «operadores» subjectivos da tese.

10. Vd. Para o estudo essencial sobre o conceito de dobra, nas suas mais divergentes operações: DELEUZE, Gilles - Le Pli, Leibniz et le Baroque. Paris: Minuit, 1988.

11. «O corpo e a alma são construídos da mesma maneira, como direito e avesso, na intersecção de clusters de raios de curvatura. Corpo e alma são simples efeito de convergência que se produzem no espaço, nos dois lados da superfície do mundo, que os envolve». O corpo não é por isso menos «ideal» que o espírito e vice-versa. Vd. CACHE - Ibidem, Cap.10, "Body and soul", p.120-132. (nossa tradução). Ilustração do tipo de inflexão maneirista, p. 128.

12. Vd. CACHE - Ibidem, Cap. 5, "Cadre", p.56-64.

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